1. |
Makumbhia
04:01
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MAKUMBHIA
ele atirou
ele atirou
e ninguém viu
só o flecheiro sabe
aonde a flecha caiu
eu cultuo o sol
eu cultuo a lua
lá na encruzilhada
quem comanda
é tranca-rua
o meu pai teve a mãe
e o meu pai teve o pai
só que para ele ter o pai
ele teve os avós
a única viva
é a mãe da mãe do meu pai
a bisa dasdor
que matou o marido com o pilão
pra se casar com o primo
ele arrancou uma costela dela
e do osso nasceu uma amante
que com ele teve mais vinte anti-heróis
que sabiam amansar o azul e a pólvora
e povoaram o barreiro
deus viu que isso era bom
e foi-se embora
se você andar de costas
vai encontrar sua mãe morta
em pé atrás da porta
se pisar numa risca no chão
a espinha da mãe quebra
blusa do avesso não pode
chinelo virado a mãe morre
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2. |
Pin Up (About a Girl)
07:15
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PIN UP (ABOUT A GIRL)
gordinha e funda
pin up loirinha vidaloka
gosta de pegar pesado gosta de arriscar
me xinga de frouxo se não chicoteio com força
nas costas na bunda nas coxas
bate na minha cara cospe na minha cara
senta na minha cara goza na minha cara
squirt na minha cara
engole minha saliva me lambe as axilas
me morde as bolas a cabeça do pau
me pede pra gozar na cara dela
as unhas coloridas gigantes e curvas como anzóis
tecendo mapas nas minhas costas desnutridas
prédio acima os vizinhos ficam rumorosos
por causa dos gemidos dos gritos
interfonam batem janelas
bilhetes amanhecidos pregados na porta
favor diminuir os grunhidos
Pin Up loirinha vidaloka
aparece nas noites mais improváveis
geralmente quando já estou bêbado ou louco ou triste
ou quando o asfalto o tédio
o futuro empoeirado além-eras
já dilapidaram o que restava daquele mundo fodido
que um dia vi em nós e que talvez se tornasse puro
ou quando já bati uma longa punheta
pensando nela
pensando nela
pensando nela
traz chicotes algemas coleiras vibradores ky
às vezes cocaína às vezes codeína ás vezes alguma amiga
às vezes alguma amiga às vezes cocaína às vezes codeína
sempre cocaína
quando está prestes a gozar
me manda de novo empunhar o chicote
e foder foder foder foder foder foder
Pin Up loirinha vidaloka
sobre os lençóis nômade céu caído
olhinhos turvos e gratos de fêmea saciada
o corpo e ela a alma se encapelando em regresso
se enrosca eufônica em mim
e dorme
Pin Up loirinha vidaloka
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3. |
Canto para Oxóssi e Oxum
05:12
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CANTO PARA OXÓSSI E OXUM
despejado na vida
fui erê pulando o muro da usina
cria da palafita de asfalto
beira-br beirada de linha
caboclinho pardo
no ferro forjado
sobrevivente
da desnutrição e da chacina
minha poesia ginga
entre a gíria o jongo e a ilíada
oxóssi é rei e me guia
pela meia noite pelo meio dia
oxóssi me deu da vitória a certeza
latitudes labaredas
e uma flecha certeira
meio oxóssi
meio oxum
oxum negra sereia
mãe do ouro e da correnteza
proteja este teu filho vieira
que no teu amor fez fortaleza
oxum mãe primeira
ordenou que assim seja
toda vida é sagrada
toda vida é centelha
só o que me fere é a beleza
em seus joelhos amargos
descanso minha cabeça
em minhas veias
corre o nilo, o são francisco
a fúria da maré cheia
meio oxum
meio oxóssi
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4. |
Eu Comi o Morrissey
03:21
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EU COMI O MORRISSEY
muitos disseram
tentei
fundo de fábrica
manchester
só agora eu sei
belo horizonte
embaixo da ponte
yesterday
eu comi o morrissey
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5. |
I'm Not Gonna Crack
05:57
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I’M NOT GONNA CRACK
desde que você foi embora
minhas mãos malparidas
entre aurora & tremor
se afundam nos bolsos da sombra
a procura de drogas
ou de no mínimo
uma âncora
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6. |
Suely
06:08
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SUELY
suely diz chega de viver assim
essa dor, essa miséria parecem nunca ter fim
será que andar livre é somente sonho meu?
tão distante o amor,
inacessível como um deus
lavar pratos, matar o corpo e a dignidade
desde que nasci este é o futuro que me cabe
que se danem todos os homens,
todos os homens desse lugar
não me deito com vocês,
não me venham cortejar
suely, suely, suely, suely
suely, suely, suely, suely
conheci uma garota na internet essa semana
iluminada sorriu a minha alma, uma paz,
uma força estranha
que me tomou e que me faz voar,
ela me espera em sampa
meu desejo, meu sonho, meu desassossego
agora tem uma irmã
há tanto tempo te espero
como a noite tem certeza da manhã
nessa hora incerta essa luz me leva
como um febre terçã
pra trás eu deixo esse inferno,
essa família fascista e cristã
suely, suely, suely, suely
e se o mundo cair logo ali?
suely, suely, suely, suely
quem é que vai te redimir?
o deus do amor há de ter novos altares
o deus do amor há de ter novos altares
o deus do amor há de ter novos altares
você vai festejar, você vai celebrar
você vai conseguir
suely, suely, suely, suely
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7. |
Meus Amigos
05:33
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MEUS AMIGOS
meus amigos enlouquecem chorando ao telefone
chegam sem aviso, cheios de fúria e de fome
na poeira dos dias guardando um sorriso pra mim
sempre dizem não desista, meu bem a vida é assim
meus amigos são feitos de sonhos e vidraças quebradas
hoje querem esquecer o que fizeram na noite passada
me amam, me odeiam, querem me matar, me salvar
já foram fundo no mistério do mundo e trazem notícias de lá
quem são meus amigos?
onde estão meus amigos?
meus amigos se apaixonam, dessa vez é o amor da minha vida
estranhos, clandestinos mestiços, párias de língua lusíada
meus amigos engravidam, pais e filhos se amando no ringue
chapado de vinho barato o domingo se torna sublime
garotas do subúrbio lendo rimbaud no metrô
um vídeo pornô, um prozac, um baseado, um alívio pra dor
meus amigos se divorciaram, se viciaram em deus ou em pó
são mais um rosto na multidão escorrendo da alma o suor
eles cumprem pena presos dentro de si mesmos
sabem que eu não vou pagar mas sempre me emprestam dinheiro
solitários pulam os muros da minha solidão
numa curva qualquer, num beijo somem sem explicação
quem são meus amigos?
onde estão meus amigos?
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8. |
Tá Rolando
03:33
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TÁ ROLANDO
os pés inchados
dentro dos sapatos ridículos
desamarrados
sem amor & sem cigarro
fissurado & desarmado
sem amor nenhum cigarro
no barreiro a essa hora
à procura de drogas
isso não vai terminar bem
no senado a essa hora
tá rolando!
no congresso a essa hora
tá rolando!
stf a essa hora
tá rolando! tá rolando
na igreja a essa hora
tá rolando! tá rolando
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9. |
Sangue Ruim
04:49
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SANGUE RUIM
da parte do pai vinham os de pele escura & parda
índias pegas no laço ladrões d’além mar escravizados & riobaldos
idólatras do cobre da preguiça & das armas
malvivendo amontoados naquela casa pau a pique senzala
partiam para o leste sob a tutela da noche oscura
levavam na matula a bússola a meiota de cachaça
carcaças de pequenos animais
sapienciais pergaminhos:
eis que vou agora dormir no pó
se me procurares pela manhã já não existirei
os irmãos da mãe na fronte acuada traziam sardas
lixo branco escorraçado das terras de lund
lazarones no monturo do morro das pedras
ralé de pés rachados sonâmbulos na encruzilhada
malvivendo amontoados naquela casa adobe senzala
pico & cola arranhando as grades da alma
pau-de-arara arranhando as grades da alma
cesta básica arranhando as grades da alma
falavam uma gíria bárbara & cheia de fúria:
o terceiro mundo vai explodir quem tiver de sapato não sobra
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10. |
Cidade Industrial
08:13
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CIDADE INDUSTRIAL
aqui as crianças já nascem
desmemoriadas do azul
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